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Brasileiro que quase perdeu as pernas é citado em relatório que denuncia superlotação e mortes em centro de detenção da Flórida

2025-08-29  Paulo Ricardo  10 views
Brasileiro que quase perdeu as pernas é citado em relatório que denuncia superlotação e mortes em centro de detenção da Flórida

Dados oficiais revelam que as chamadas ao serviço de emergência 911, feitas a partir do local, dobraram no primeiro semestre de 2025, refletindo o crescimento explosivo da população carcerária.

Crescimento fora de controle

Segundo o ICE (Departamento de Imigração e Alfândega), a média diária de detidos em Krome saltou de menos de 600 pessoas no início do governo Trump para 900 em julho deste ano. Em abril, o número chegou a 1.800 imigrantes, o triplo da capacidade oficial do centro.

O resultado foi imediato: mais de 170 chamadas de emergência entre janeiro e julho, contra 86 no mesmo período do ano anterior. Metade desses pedidos envolveu pacientes doentes ou feridos — uma proporção muito superior à de 2024.

Mortes e condições degradantes

Com pelo menos três mortes confirmadas em 2025, Krome se tornou o centro de detenção mais letal do país. Entre as vítimas está o ucraniano Maksym Chernyak, de 44 anos, que sofreu convulsões após dias de espera por atendimento, e o cubano Isidro Perez, de 75 anos, que morreu em junho após reclamar de dores no peito sem receber cuidados adequados.

Relatos de advogados e familiares descrevem situações degradantes: recém-chegados dormindo no chão, sem acesso a banho, água potável ou atendimento médico imediato. Alguns chegaram a permanecer até uma semana em salas superlotadas, projetadas para 25 pessoas, mas com mais de 60 confinadas.

“É absolutamente horrendo. Em quase dez anos de advocacia imigratória, nunca vi nada parecido”, declarou a advogada Chelsea Nowel, que atua em casos no centro.

Negligência médica e abusos

As denúncias mais graves recaem sobre o atendimento médico. O ICE Health Service Corps, responsável pelos cuidados, é acusado de atrasar consultas mesmo em casos críticos. Um brasileiro quase perdeu as pernas após uma infecção bacteriana não tratada, enquanto outro imigrante foi levado ao hospital “a minutos de uma ruptura intestinal”.

Além disso, surgem relatos de agressões físicas e perseguições contra imigrantes LGBTQIA+. “Quando a solitária se torna uma opção melhor do que ficar com a população geral, isso mostra como as coisas estão terríveis”, disse Ron Smock, visitante regular de um amigo brasileiro em Krome.

Política e contradições

A crise ocorre em meio ao endurecimento migratório do governo Trump, apoiado pelo governador da Flórida, Ron DeSantis. Apesar disso, dados mostram que mais da metade dos detidos não possui antecedentes criminais e foi presa em operações de rotina, como fiscalizações de trânsito ou check-ins no ICE.

Ainda assim, o congressista Carlos Gimenez, após visitar o centro, minimizou as denúncias: “Não é o Ritz, mas não há nada ali que cause alarme”.

Em contradição, uma inspeção interna do próprio ICE em maio registrou 14 falhas graves de conformidade, principalmente ligadas à saúde e às salas de espera — o dobro do constatado na última avaliação.

Pressão por alternativas

Organizações de direitos humanos exigem alternativas à detenção, como monitoramento comunitário, especialmente para imigrantes com problemas de saúde, laços familiares nos EUA e sem histórico criminal.

“O que vemos é encarceramento em massa sem justificativa de segurança pública”, afirmou Nery Lopez, da Detention Watch Network.

Para a advogada Nowel, a situação é resultado de escolhas políticas:
“Está muito pior do que jamais vimos. E tudo isso por nada. Não há razão para que esteja acontecendo.”


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