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Guerra tarifária: Trump impõe tarifas a mais de 90 países; bolsas caem

2025-08-01  Paulo Ricardo  97 views
Guerra tarifária: Trump impõe tarifas a mais de 90 países; bolsas caem

Em mais um movimento que promete estremecer o comércio internacional, o presidente Donald Trump assinou nesta quinta-feira (31/7) uma ordem executiva que impõe tarifas comerciais a produtos importados de 92 países. As novas taxas, que variam entre 10% e 41%, entram em vigor a partir de 6 de agosto e já começaram a gerar efeitos nos mercados globais.

Com a medida, o republicano inaugura oficialmente uma nova guerra tarifária em escala planetária — uma estratégia agressiva que ameaça alianças diplomáticas, acordos comerciais históricos e, sobretudo, a estabilidade econômica de países emergentes. Brasil, Síria, Laos e Mianmar lideram a lista dos mais penalizados, com tarifas de até 40%, enquanto nações como Canadá, Índia e Suíça também foram duramente atingidas.

Brasil: punição geopolítica disfarçada de tarifa

O Brasil foi especialmente afetado: a tarifa sobre produtos brasileiros, que antes estava em 10%, foi elevada para 40%, totalizando 50%. Segundo a Casa Branca, o motivo seria uma espécie de retaliação política — uma "punição" por conta da condução do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).

A justificativa levantou sérias acusações de interferência externa na soberania brasileira. Especialistas apontam que a decisão representa um uso inédito de tarifas comerciais como ferramenta de pressão política direta.

Impactos nos mercados: bolsas caem, dólar dispara

A resposta dos mercados foi imediata. Na manhã seguinte ao anúncio, as bolsas da Europa e da África registraram fortes quedas. O índice DAX, da Alemanha, caiu 1,1%. O francês CAC recuou quase 1%, enquanto o espanhol IBEX perdeu 0,6%. Em Londres, o FTSE 100 recuou 0,5%. Na África do Sul, o índice JSE FTSE teve baixa de 1,2%.

Nos Estados Unidos, os futuros de Wall Street também recuaram: S&P 500 (-0,85%), Nasdaq (-0,87%) e Dow Jones (-0,9%). Em contraste, o dólar americano subiu 0,1%, atingindo seu maior patamar em dois meses. Analistas afirmam que os mercados já antecipam pressões inflacionárias, o que pode comprometer os planos do Federal Reserve de cortar as taxas de juros.

Amigos e inimigos no mesmo balaio

Mesmo aliados históricos dos EUA não escaparam. A União Europeia negociou uma tarifa uniforme de 15%, o que foi visto com revolta por parte de líderes europeus. O primeiro-ministro francês, François Bayrou, criticou duramente:

“É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres resolve se submeter.”

Já o Canadá, que já enfrentava uma tarifa de 25%, viu essa alíquota subir para 35%, em meio a tensões bilaterais sobre o combate ao tráfico de fentanil. Coincidentemente (ou não), o aumento veio poucos dias após o país reconhecer oficialmente o Estado da Palestina — o que, segundo Trump, pode “dificultar qualquer novo acordo comercial”.

México escapa por pouco, Índia e China seguem na mira

O México foi poupado temporariamente após uma ligação entre Trump e a presidente Claudia Sheinbaum. O país terá 90 dias para negociar um acordo e evitar as tarifas. Já a Índia foi alvo de uma tarifa de 25%, principalmente devido às tensões com Trump sobre o comércio de petróleo russo e barreiras tarifárias recíprocas.

A China, maior parceiro comercial dos EUA, entrou em um cronograma separado. Suas tarifas estão previstas para 12 de agosto, com uma trégua informal em negociação.

Efeitos colaterais: demissões e recessão em países vulneráveis

O impacto das novas tarifas já está sendo sentido em países mais frágeis economicamente. No Lesoto, no sul da África, o simples anúncio da possível tarifa de 50% em abril levou à fuga de empresas americanas, como Levi’s e Reebok, e resultou em milhares de demissões. Embora a tarifa final tenha ficado em 15%, o estrago já estava feito.

Organizações internacionais alertam para os riscos humanitários em países como Síria, Iraque, Mianmar e Laos, onde a dependência de exportações para os EUA é alta e os governos locais já enfrentam crises internas severas.

Críticas internas e dúvidas sobre eficácia

Mesmo dentro dos Estados Unidos, a estratégia tarifária tem gerado críticas. Segundo o New York Times, economistas permanecem céticos quanto à eficácia da medida. Embora algumas indústrias locais possam ser beneficiadas no curto prazo, grande parte da produção americana depende de componentes importados sem substituição doméstica viável — o que pode gerar efeitos colaterais como inflação e escassez de produtos.

Apesar disso, Trump parece confiante. Em entrevista à NBC News, afirmou:

“Está indo muito bem, muito bem. Mas não quer dizer que alguém não apareça em quatro semanas e diga que podemos fazer algum tipo de acordo.”


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