Escassez de Ovos nos EUA: Gripe Aviária e Tensões Comerciais Aumentam Crise de Abastecimento
Ao percorrer supermercados nos Estados Unidos, não é raro encontrar avisos como "Sem ovos disponíveis", fixados em prateleiras vazias. Essa foi a cena registrada no último sábado (18), em uma loja da rede Safeway, localizada a poucos quarteirões da Casa Branca, em Washington.
O comunicado informava que falhas nas entregas foram causadas por surtos recentes de gripe aviária no país. “Os produtores de ovos estão enfrentando dificuldades de fornecimento devido aos surtos da doença, o que resultou em custos mais altos e escassez temporária de produtos. Pedimos desculpas pelo transtorno”, dizia o aviso registrado pela EXAME.
Impacto da Gripe Aviária na Produção de Ovos
Desde dezembro de 2024, os EUA enfrentam um surto de gripe aviária H5N1, colocando em risco a produção nacional de ovos. O país, terceiro maior produtor mundial com 113 bilhões de unidades anuais (segundo a FAO), teve que abater milhões de galinhas para conter a propagação do vírus.
Em dezembro, cerca de 13,2 milhões de aves foram sacrificadas, e em janeiro, outras 8,3 milhões também foram abatidas, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Esse abate em massa reduziu significativamente a oferta de ovos, gerando uma pressão nos preços.
O preço médio dos ovos brancos grandes subiu para US$ 6,55 por dúzia, um aumento de US$ 0,68 em relação à semana anterior. Em Nova York, o valor chegou a US$ 7,24, enquanto no início de janeiro era US$ 6,06.
Medidas dos Supermercados e Riscos Futuros
Para lidar com a escassez, supermercados nos EUA estão limitando a quantidade de ovos que cada cliente pode comprar e reduzindo promoções para manter o abastecimento mínimo.
Analistas do Santander, como Guilherme Palhares e Laura Hirata, expressaram preocupação com o risco de a gripe atingir reprodutores de frango de corte, afetando ainda mais a cadeia produtiva. A migração de aves silvestres, que ocorre até maio, também pode intensificar a disseminação da doença.
O cenário lembra o surto de 2015, que afetou 50,5 milhões de aves em estados como Minnesota, Missouri, Arkansas e Kansas. Em 2023, 43 milhões de aves foram infectadas, reduzindo drasticamente a oferta de ovos.
Tensões Comerciais e o Efeito Trump
A crise dos ovos ganhou destaque na Casa Branca, especialmente após declarações da porta-voz do governo Trump, Karoline Leavitt, que responsabilizou o ex-presidente Joe Biden pela escassez. Segundo ela, o abate de 100 milhões de frangos durante o governo anterior contribuiu diretamente para a crise atual.
"O governo Biden e o Departamento de Agricultura ordenaram o abate em massa, reduzindo a oferta e agravando a crise dos ovos", afirmou Leavitt.
A situação pode se agravar com os planos de Trump de impor tarifas de 25% sobre produtos importados do México e Canadá, países que são importantes fornecedores de ovos para os EUA. Em 2023, o México exportou 7 milhões de dúzias, enquanto o Canadá enviou 46,8 milhões de dúzias, segundo o USDA.
Além disso, Trump ameaçou aplicar tarifas de 100% aos países do BRICS caso continuem a buscar alternativas ao dólar. O Brasil, que integra o bloco, exportou 3,25 milhões de dúzias de ovos para os EUA em 2024, um aumento de 85% em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Essas tensões comerciais, somadas à crise sanitária, podem prolongar a escassez de ovos nos EUA e elevar ainda mais os preços nos próximos meses.