
A mudança reflete uma nova diretriz operacional da agência, impulsionada pelas metas mais agressivas adotadas pelo governo Trump.
Desde que a administração triplicou a meta diária de prisões, saltando de 1.000 para 3.000 detenções, o perfil dos detidos passou a incluir cada vez mais pessoas sem histórico criminal. Em janeiro de 2025, 18% das 451 prisões feitas no Arizona envolveram imigrantes sem condenações. Já em maio, esse número subiu para 28%, e permaneceu estável em junho, com 241 dos 863 detidos pertencendo a essa categoria.
Em escala nacional, o cenário é ainda mais alarmante. No início de junho, 47% das prisões diárias do ICE envolviam pessoas sem qualquer acusação criminal, um salto em relação aos 21% registrados em maio. Paralelamente, a média diária de detenções chegou a 930, sendo que 42% dos casos envolviam indivíduos sem antecedentes nos EUA.
Apesar da retórica do governo de que o foco seria em criminosos ilegais, dados e especialistas apontam para uma ampliação do alvo da fiscalização. A secretária assistente do Departamento de Segurança Interna (DHS), Tricia McLaughlin, defendeu a atuação do ICE, afirmando que “70% das prisões feitas pelo ICE envolvem pessoas com condenações ou acusações pendentes”. No entanto, ela também sugeriu que muitos classificados como "não criminosos" seriam, na prática, membros de gangues, suspeitos de terrorismo ou violadores de direitos humanos, mas sem registros oficiais no país.
Especialistas em imigração, por outro lado, reforçam que o ICE tem autoridade para prender qualquer pessoa que viole as leis migratórias, mesmo sem antecedentes criminais. Para o pesquisador Austin Kocher, da Universidade de Syracuse, essa tendência representa uma mudança estratégica profunda, com impactos diretos sobre comunidades imigrantes e o clima de insegurança entre famílias que antes se sentiam protegidas por estarem dentro da lei.
Mais preocupante ainda é a proposta de Trump para uma nova onda de deportações em massa, que pode incluir não apenas pessoas em situação irregular, mas também indivíduos com status legal que poderiam ser reclassificados ou desqualificados por meio de decretos ou novas interpretações da lei.
Enquanto isso, em Washington, legisladores discutem um projeto de lei que visa proibir o ICE de deter cidadãos americanos por engano, algo que já aconteceu diversas vezes, inclusive com pessoas nascidas nos EUA e que passaram dias em centros de detenção.
Esse aumento nas prisões de não criminosos reabre o debate sobre o verdadeiro papel do ICE, os limites da atuação federal na imigração, e até que ponto o discurso de segurança pública está sendo usado para justificar medidas de repressão mais amplas. O resultado, segundo ativistas e organizações de direitos civis, é uma comunidade cada vez mais temerosa, com imigrantes deixando de acessar serviços públicos, denunciar crimes ou mesmo enviar filhos à escola com medo de serem detidos.