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Tarifaço: mercado teme que medidas do pacote se tornem permanentes

2025-08-14  Paulo Ricardo  66 views
Tarifaço: mercado teme que medidas do pacote se tornem permanentes

A reação do mercado financeiro e de especialistas ao pacote antitarifaço lançado pelo governo brasileiro tem sido marcada por preocupação.O temor central é que medidas anunciadas como temporárias acabem se transformando em políticas permanentes, ampliando riscos fiscais e criando dependência do Estado por parte de empresas exportadoras.

O economista Enrico Gazola, sócio-fundador da Nero Consultoria, avalia que o desenho de parte das ações preocupa. Ele destaca que a vinculação rígida de linhas de crédito à manutenção integral de empregos desconsidera ajustes e realocações necessárias para preservar a competitividade. Gazola também aponta que compras públicas para absorver excedentes, se mal conduzidas, podem distorcer preços e abrir espaço para uso político de recursos.

Outro ponto sensível é a ausência de clareza sobre o prazo de saída dessas intervenções e sobre como será precificado o risco assumido pelo Estado. “Medidas temporárias no Brasil frequentemente viram políticas permanentes”, alerta o economista, ressaltando que os custos fiscais não podem ser ignorados. Para ele, responsabilidade fiscal é essencial para manter juros sustentáveis, câmbio estável e a confiança de investidores.

Gazola ainda observa que o governo poderia ter atuado mais cedo no campo diplomático com os Estados Unidos, buscando mitigar a escalada que resultou no tarifaço. “O plano tem méritos no curto prazo, mas o sucesso dependerá de foco, temporariedade e transparência, evitando que empresas se acomodem no amparo público”, conclui.

Para Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, a atenção do mercado nesta quinta-feira (14) seguirá voltada para a repercussão das medidas e para a percepção de fragilidade das contas públicas, fator que mantém o dólar sensível a decisões do Federal Reserve e à confiança na política econômica doméstica.

Apoio de setores da indústria e do comércio

Apesar das críticas, entidades representativas de setores diretamente afetados apoiaram o pacote. A Fiesp classificou as medidas como importantes para “preservar empregos, diversificar mercados e assegurar condições justas de comércio internacional”. A federação disse que continuará contribuindo com propostas para ampliar a resiliência do setor produtivo e dialogando com o setor privado norte-americano.

A FecomercioSP também se manifestou, afirmando que as ações dão “fôlego aos setores atingidos” e defendendo que o foco agora seja negociar para reduzir tensões. A entidade pediu que se evitem declarações retaliatórias e debates públicos improdutivos, reforçando que as políticas anunciadas podem ter efeito relevante para produtos industrializados sem destino imediato fora dos EUA.

Medidas provisórias e principais pontos

Apelidada de Brasil Soberano, a Medida Provisória assinada pelo governo prevê ações voltadas principalmente para pequenos exportadores prejudicados pelo tarifaço. As medidas já estão em vigor, mas precisam ser aprovadas pelo Congresso em até 120 dias. Entre os principais pontos estão:

  • Linhas de crédito de R$ 30 bilhões para pequenos produtores afetados.

  • Ampliação do Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para todo o setor exportador.

  • Criação de seguro para exportações visando garantir operações em novos mercados.

  • Compras governamentais de produtos perecíveis sem alternativa de venda além dos EUA, destinados a merendas escolares e ao sistema prisional.

  • Expansão do Reintegra, permitindo que micro e pequenas empresas recuperem até 6% dos tributos pagos até o fim de 2026.

As medidas foram anunciadas uma semana após o início da sobretaxa de 50% sobre 36% das exportações brasileiras para os EUA, sancionada pelo presidente Donald Trump. A ação faz parte de um pacote protecionista que também atinge União Europeia, China e Índia, mas deixou cerca de 700 produtos brasileiros isentos da taxação.


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