Denúncias de Alimentos Insuficientes e Vencidos em Centros de Detenção
Detentas em centros de imigração dos Estados Unidos, como a unidade de Richwood, na Louisiana — um dos polos da política de deportações da administração Trump —, estão relatando refeições consistentemente mal preparadas, insuficientes e, por vezes, estragadas. A imigrante Camila Muñoz, meses após sua libertação, descreveu a sensação constante de fome e a necessidade de comer os alimentos "de qualquer jeito".
Os relatos descrevem um cardápio pobre, composto majoritariamente por alimentos processados, como mingau em pó, carnes enlatadas e pão com presunto congelado. Muitas detentas afirmam não ver frutas frescas há meses. As denúncias de queixas específicas sobre a qualidade incluem feijão com "cheiro rançoso", geleia que "virou cristal" e presunto "com gelo". As porções teriam diminuído com o aumento da população carcerária, sendo servidas em horários imprevisíveis.
Falhas Estruturais e Acusações de Cortes de Custos
A situação de má alimentação soma-se a outras denúncias de condições insalubres, como banheiros entupidos, mofo nos chuveiros e infestação de insetos. O centro de Richwood, administrado pela empresa LaSalle Corrections, afirma seguir os padrões nacionais de detenção e ser supervisionado pelo Departamento de Segurança Interna (DHS). O governo Trump garante que os detentos recebem "refeições adequadas". No entanto, investigações federais têm apontado centenas de falhas relacionadas ao serviço de alimentação em diversas unidades do ICE pelo país.
Pesquisadores e críticos, como a autora Nancy Hiemstra, sugerem que o problema é estrutural, ligado a um modelo de negócio focado no corte de custos. Ela explica que a "comida ruim é parte da equação econômica" ao estimular o consumo no comissariado interno (commissary), onde produtos são vendidos a preços altos — frequentemente por empresas ligadas às mesmas que fornecem a alimentação básica.
A Humilhação da Fome e a Sobrevivência Coletiva
O impacto psicológico da situação é profundo. Camila Muñoz descreveu a experiência como "humilhante", chegando a cogitar pegar comida do prato de outra detenta. Ela, contudo, destaca que a fome uniu as mulheres detidas, muitas das quais (97% em agosto) não tinham antecedentes criminais, apesar de não falarem o mesmo idioma ou terem datas de deportação incertas.