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Interesse explode e metade dos pedidos para mineração no mar brasileiro foram feitos nos últimos 5 anos

2025-02-06  Cintia de Aguiar  35 views

Esses nódulos aparecem principalmente na região Sul e estão sendo analisados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), conforme explica Klumb, geólogo com mais de 25 anos de atuação na exploração mineral no Brasil e no exterior.

Em resposta a uma solicitação do Observatório da Mineração via Lei de Acesso à Informação, o SGB informa que apenas 10,85% do território submarino brasileiro foi mapeado, abrangendo o estudo da geologia marinha em diferentes profundidades na plataforma continental estendida e em áreas internacionais onde o Serviço Geológico atua.

Geopolítica e transição energética impulsionam pedidos de extração no mar

Paulo Sumida, diretor do Instituto Oceanográfico da USP, aponta que o crescimento dos requerimentos na ANM está associado à busca por minerais críticos no oceano e à corrida global para reduzir as emissões de carbono a médio prazo.

“A instabilidade geopolítica, especialmente os confrontos entre China e EUA pela liderança nesse setor, torna o acesso a esses minerais uma vantagem econômica significativa. Isso impacta também o Brasil, que possui uma extensa costa e grande potencial para exploração desses recursos”, afirma.

Sumida destaca sua preocupação com a perda da biodiversidade marinha, já que os ecossistemas em grandes profundidades possuem dinâmicas muito distintas das águas rasas, exigindo um manejo específico.

“O alerta dos cientistas pode pressionar por uma moratória na exploração desses recursos. Estamos considerando a extração de uma vasta área sem ter total compreensão dos impactos globais. Atualmente, enfrentamos três grandes crises planetárias: climática, de biodiversidade e de poluição. Não podemos abordar uma sem considerar as outras. A perda da biodiversidade pode gerar um colapso ecossistêmico sem precedentes”, alerta.

Ele acredita que a diplomata brasileira Letícia Carvalho, recém-eleita secretária-executiva da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), pode reforçar a fiscalização ambiental nesse setor.

“Com a nova liderança, espera-se uma abordagem mais voltada para a conservação e soluções sustentáveis na utilização desses recursos. A gestão anterior priorizava a exploração, pressionando para que ocorresse rapidamente”, comenta Sumida.

Exploração no oceano traz riscos ambientais, e Brasil pode não estar preparado

Assim como na mineração terrestre, a exploração mineral no mar envolve riscos ambientais. Klumb explica que, nos depósitos brasileiros, a extração ocorre por meio de dragagem e raspagem do fundo oceânico.

“A remoção do material do assoalho marinho gera uma pluma de sedimentos que pode se espalhar por longas distâncias, dependendo da densidade do material suspenso. Com as correntes marinhas, essa sedimentação pode cobrir algas e corais a quilômetros de distância das áreas mineradas, além de afetar diretamente organismos que habitam o fundo oceânico”, alerta o geólogo.

Ele critica a crença de que o oceano tem capacidade ilimitada de regeneração e aponta falhas na fiscalização ambiental brasileira.

“Temos dificuldades em lidar com problemas previsíveis, como queimadas e enchentes. Nossos órgãos fiscalizadores estão sucateados. Precisamos questionar como essa atividade será fiscalizada, qual o alcance da dispersão dos sedimentos e quais impactos a mineração diária de quilômetros quadrados pode gerar na fauna marinha. Além disso, o que será feito com o passivo ambiental de empresas que não cumprirem as normas? Antes de avançar nessa exploração, precisamos fortalecer nossa governança ambiental”, argumenta.

Klumb também contesta o argumento de que a mineração de nódulos de manganês ajudaria a combater as mudanças climáticas.

“A justificativa de que essa extração reduziria impactos ambientais não se sustenta. Esse discurso serve apenas para sensibilizar a opinião pública e desviar o foco dos danos reais que serão causados. É essencial debater esse tema com transparência, buscando equilibrar exploração mineral e preservação dos oceanos. Sou favorável à mineração, mas acredito que ainda não estamos prontos para essa atividade no fundo do mar”, conclui.

Alternativas à mineração oceânica devem ser consideradas

Antes de investir na exploração submarina, o Brasil deveria priorizar a reutilização de resíduos da mineração em áreas degradadas, sugere um professor da UFBA.

“O avanço tecnológico deve permitir maior aproveitamento desses resíduos. Somente após esgotarmos essas possibilidades, poderíamos considerar a exploração em ecossistemas sensíveis como o oceano”, afirma.

Norberto Olmiro Horn Filho, professor do Departamento de Geologia da UFSC, ressalta os riscos ambientais da mineração submarina, especialmente para a fauna e flora marinhas.

“É fundamental entender a vulnerabilidade das áreas antes da exploração. O licenciamento mineral deve ser rigoroso e responsável. Toda atividade mineradora, seja em terra ou no mar, precisa de medidas eficazes para mitigar impactos ambientais”, explica.

Além dos minerais estratégicos, outros fatores também impulsionam os pedidos na ANM, como a extração de areia para recomposição de praias, especialmente em Santa Catarina.

“O aumento da demanda por recursos oceânicos reflete a escassez de minerais em terra e a ascensão da Economia Azul. Exemplos incluem a extração de sedimentos arenosos para combater a erosão costeira e o interesse em nódulos polimetálicos, crostas cobaltíferas e sulfetos metálicos em águas profundas, que ainda aguardam regulamentação da Autoridade Internacional dos Fundos Oceânicos”, conclui o pesquisador.

 


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