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Herdeira quer reposicionar o cacau no Oeste baiano e elevar produtividade

2025-09-05  Paulo Ricardo  10 views
Herdeira quer reposicionar o cacau no Oeste baiano e elevar produtividade

À frente da gestão desde 2018, Cláudia Calmon de Sá vem conduzindo uma reestruturação baseada em adubação, mecanização e sistemas de parceria, buscando transformar a produção da família em referência no setor.


Desafios históricos da cacauicultura

O cacau brasileiro sofreu um duro golpe com a chegada da vassoura-de-bruxa no fim da década de 1980, que devastou lavouras e reduziu drasticamente a produtividade. Hoje, mesmo com sinais de recuperação, o setor ainda convive com gargalos estruturais.

“Quem tem alta produtividade consegue resistir às oscilações do mercado. Já quem produz pouco fica vulnerável”, explica Cláudia, que administra 14 fazendas (1.800 hectares de cacau), metade em cabruca e metade em sistemas agroflorestais.

Atualmente, a produtividade média do grupo é de 45 arrobas por hectare, mais que o dobro da média regional (18 arrobas), mas ainda insuficiente para sustentar uma posição competitiva diante das flutuações internacionais. O objetivo é chegar a 80–100 arrobas/ha, nível considerado capaz de suportar a volatilidade do mercado.


Aposta na mecanização e inovação

O grupo investe em tratores compactos para terrenos íngremes, máquinas para quebra do cacau e técnicas de manejo para aumentar eficiência. Os custos de investimento giram em torno de R$ 50 mil por hectare, segundo Cláudia.

Outra frente é a produção de cacau a pleno sol no oeste da Bahia, com irrigação, além da expansão para o mercado de cacau fino e rastreável, já com 10% da produção voltada ao segmento Bean to Bar.

Nos anos de baixa de preço, os subprodutos do cacau — como mel e polpa — chegaram a representar até 30% da receita. Hoje, o grupo estuda ampliar essa frente para conquistar a indústria de alimentos e bebidas.


Mercado global e pressão de preços

O preço da amêndoa vem de uma disparada histórica: de US$ 2.300 por tonelada em 2022 para até US$ 12.600 em 2024. Apesar da queda recente, o valor ainda se mantém em patamar elevado, girando em torno de US$ 7.500 em setembro de 2025.

Ainda assim, no acumulado do ano, o cacau registra queda de cerca de 30% na bolsa ICE de Nova York, reforçando a necessidade de estratégias de resiliência no campo.


O Brasil no mapa do cacau

O Brasil já foi protagonista mundial na cacauicultura, mas hoje ocupa apenas a sexta posição. A produção nacional, de cerca de 190 a 200 mil toneladas anuais, não atende à demanda da indústria local, que tem capacidade para processar 275 mil toneladas. Para alcançar a autossuficiência, seria necessário atingir pelo menos 300 mil toneladas.

Enquanto isso, moageiras instaladas em Ilhéus — como Cargill, Barry Callebaut e Ofi — operam com capacidade ociosa e complementam a demanda com amêndoas importadas da África.


Visão de futuro

Cláudia acredita que a chave está na profissionalização, tecnologia e manejo sustentável. Em três anos, o grupo quer dobrar a produtividade, mecanizar 40% das áreas e consolidar a expansão para o oeste baiano.

“O produtor não controla o preço, mas controla a produtividade e o custo de produção. Quem faz isso bem consegue lucrar com preço baixo — e ganhar muito quando o preço está alto”, reforçou Pedro Ronca, diretor da Cocoa Action, durante a Expo Cacau em Ilhéus.

Para o Grupo Cantagalo, o reposicionamento é mais que estratégia empresarial: é também uma tentativa de recuperar a força histórica do cacau brasileiro e colocar a Bahia novamente no centro da produção mundial.


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